Almada e Pessoa: conversa entre bibliotecas

slide

Uma exposição que põe José de Almada Negreiros e Fernando Pessoa em diálogo através dos seus livros e mostra edições raras, manuscritos e dedicatórias personalizadas.  


As bibliotecas dos artistas e escritores deixam ver o circuito de relações que se fazem e desfazem ao longo da sua vida, as suas amizades e os seus interlocutores intelectuais. Os livros que os escritores e artistas leem, sublinham, comentam, ilustram, editam, oferecem e recebem de oferta, são parte, fonte, ou extensão da sua obra.
Nesta exposição, com curadoria das investigadoras Giorgia Casara e Mariana Pinto dos Santos (CEDANSA – Arquivo Documental) e Teresa Monteiro (Casa Fernando Pessoa), mostra-se uma seleção dos livros que pertenceram a José de Almada Negreiros, postos em diálogo com os de Fernando Pessoa, tendo em conta a cumplicidade que partilharam, as amizades e projetos que tiveram em comum.
É possível ver manuscritos, livros com dedicatórias preciosas, edições raras. Na biblioteca particular de Almada Negreiros, encontram-se livros com dedicatórias assinadas por Natália Correia, Jorge de Sena, Teixeira de Pascoaes, Aquilino Ribeiro e até de Vinicius de Moraes – entre muitos outros, mostrando a rede de cumplicidades pessoais e artísticas de um dos mais multifacetados artistas portugueses do século XX.   
Almada Negreiros e Fernando Pessoa conheceram-se em 1913, e em 1915 Almada foi um dos colaboradores da revista Orpheu, criada por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, e tida como o momento inaugural da vanguarda literária e artística em Portugal.
São aqui mostradas pela primeira vez dois projetos de maquetes ilustradas da Mensagem que Almada fez, mas que nunca chegou a publicar, assim como uma primeira edição da Mensagem dedicada por Fernando Pessoa a Almada, em que o trata por «Bebé de Orpheu!»
As ligações entre Pessoa e Almada Negreiros são múltiplas: Almada foi o autor do logótipo da editora que Pessoa fundou, a Olisipo, e foi lá que publicou o seu livro A Invenção do Dia Claro, (1921), também presente na exposição.
Ambos planeavam o número 3 da revista Orpheu, projeto interrompido pela morte repentina de Fernando Pessoa, em 1935.
Segundo a curadora Mariana Pinto dos Santos, “Almada foi um impulsionador da criação do mito Pessoano. Ao isolar a sua imagem no famoso retrato que fez para o Restaurante Irmãos Unidos, onde o grupo da revista Orpheu se reunia — e que pode ser visto na exposição permanente da Casa Fernando Pessoa — , Almada está a inscrever-se também no mito, ao ser o autor da imagem de Pessoa que iria ser perpetuada.”
Segundo a curadora, esta é uma das mais valias desta nova exposição, abrir novas perspetivas e ligações com outras peças que integram a coleção do museu.   

A programação paralela:

Três eventos integram os conteúdos da exposição. Duas conversas: “Olisipo, a editora de Fernando Pessoa”, com Bartholomew Ryan, Pedro Sepúlveda, e moderação de Mariana Pinto dos Santos, no dia 13 de abril; “As bibliotecas dos artistas”, com Delfim Sardo, com moderação de Giorgia Casara, no dia 7 de setembro, às 16h.

Almada-Pessoa: leituras de uma exposição

colectivo Sul, com Rita DurãoDuarte Guimarães e Sofia Marques, e em colaboração com Mariana Pinto dos Santos, entrou também em diálogo com a exposição Almada e Pessoa: Conversa entre bibliotecas através de uma sessão de leitura de textos, poemas, manifestos, notas e dedicatórias, no dia 20 de junho. As leituras abarcam o projeto editorial Olisipo e o infinito e pessoalíssimo universo das bibliotecas destes dois grandes autores, com suas críticas, elogios, desafios, humores e polémicas.

Ficha técnica
Curadoria Giorgia Casara e Mariana Pinto dos Santos (CEDANSA – Arquivo Documental) e Teresa Monteiro (Casa Fernando Pessoa)
Desenho de exposição André Maranha (Galerias Municipais)
Design de comunicação atelier-do-ver
Construção e montagem Empresa Portuguesa de Cenários
Aplicação multimédia Semente
Produção Casa Fernando Pessoa

De 2 de março a 8 de setembro de 2024.

Veja aqui a reportagem do «Público» sobre a exposição:

https://www.publico.pt/2024/05/12/culturaipsilon/noticia/poeta-artista-livros-quis-guardar-estao-casa-fernando-pessoa-2090092

Andrea Bianchini, investigador da Universidade de Pisa (Itália) ganhou a Gulbenkian Research Scholarship on Portuguese Culture for International Researchers, e voltará em outubro a integrar a equipa do CEDANSA – Arquivo Documental.

O projecto:
“Deseja-se Mulher + S.O.S. = El Uno” centrada nos textos teatrais de José de Almada Negreiros “Desejase mulher,” “S.O.S.,” “Protagonistas,” e “El Uno. A minha pesquisa, em curso, procura reconstituir a ligação entre estes textos que exploram a “Tragédia do Indivíduo e da Coletividade” e a “direção única”. A sus proposta é levar a cabo uma uma edição crítico-genética das obras “Deseja-se mulher” e “S.O.S., dado que até a data não existem. Almada, ao escrever estas obras, deixou mais de 500 documentos, incluindo (auto)traduções entre português e castelhano, cadernos manuscritos e folhas avulsas. Andrea irá analisar esses materiais no CEDANSA (o arquivo do autor) para compreender a evolução cronológica dos textos. A estadia também contribuirá para a digitalização de parte do arquivo, especialmente do dossiê “Deseja-se mulher,” e para a
correção da ordenação dos documentos. A pesquisa abrange não apenas “Deseja-se mulher” e “S.O.S.,” mas também outras obras relacionadas, como “Pierrot e Arlequim,” “Protagonistas,” “Direção Única,” e “Nome de Guerra.” A pesquisa visa sistematizar edições crítico-genéticas, revelando a trajetória dos testemunhos ao longo do tempo. O foco no teatro busca não só compreender as peças em questão, mas também investigar textos relacionados e sua evolução durante o ambicioso projeto de Almada Negreiros nas décadas de 1920 e 1930.

Almada Negreiros – 130 anos. Exposição do Centro de Estudos e Documentação Almada Negreiros-Sarah Affonso, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa.

A exposição de materiais do acervo documental de Almada Negreiros depositado na NOVA FCSH (gerido pelo IHA e pelo IELT) é constituída por uma selecção de vários tipos de documentos que se encontram no Centro de Estudos e Documentação Almada Negreiros-Sarah Affonso (CEDANSA), disponíveis para consulta e estudo. Inclui exemplos de manuscritos, de livros e periódicos significativos da biblioteca de Almada, de livros da sua autoria ou com capas por ele desenhadas, bem como fotografias, desenhos para publicar na imprensa, estudos preparatórios para obras públicas, ou recortes de imprensa guardados no espólio familiar. A exposição é uma pequena amostra da diversidade de documentos que se encontram à guarda da NOVA FCSH e que podem ser objecto de investigação.

COMEÇAR – leituras por Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques, Dinis Gomes

Começar é o título da última obra pública de Almada Negreiros, o painel de desenho inciso na Fundação Calouste Gulbenkian, terminado em 1969. É também uma palavra-chave na obra de Almada, que expressa um dos pressupostos das vanguardas do século XX: a de voltar ao início, começar do zero. Começar é também o nome escolhido para esta primeira abordagem a textos de Almada pelas actrizes Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques e o actor Dinis Gomes. Lerão um conjunto de poemas de Almada Negreiros pouco conhecidos e excertos de várias entrevistas do artista, nas
quais as suas ideias sobre arte e vanguarda perpassam com humor e ironia. Os textos que serão lidos são parte do acervo do artista à guarda da FCSH, que os actores visitaram. Começar é o início do projecto S.O.S. Aquela Noite — A partir da obra de Almada Negreiros da A Sul – Associação Cultural e Artística, com a parceria do IFILNOVA e do CEDANSA.

Consulte aqui o Programa da Conferência

Programa-Conferência